CAÇA E CAÇADOR

Nem só de esperma masculino

Vive a cara metade da palavra

Sobrevive também do beijo feminino

Ambos carregam sob a lapela de suas consciências

Mais do que o altruísmo dos humanos modernos

Mais do que simples alimentação

Material ou espiritual

Cuja carne multifacetada e crua

Transforma-os em caça e caçador

Daí qual concupiscência de cópulas e lágrimas

Ambos perfumam e espalham

Sob o ambiente em que vivem

Parcas alegrias

Tantas favelas

Milhões de mortes

Sem fim!...

Concordo de prima

Que desde o principiar do verbo

- E olha que o verbo fez-se carne

Há mais de dois mil anos

- sempre foi assim no paraíso dos náufragos:

Os homens e as suas fêmeas gozosas

Alimentam-se vorazmente de orgasmos vivos

Vez que o orgasmo surgiu do animal

O animal nutriu a grama

A grama brotou do pólen

O pólen alimentou-se de microorganismos

Os microorganismos abrolharam-se da matéria

Mas de onde nasceu a matéria?

De onde as carnes temperadas têm surgido?

De que forma as fomes vadias

Tem se vingado do úbere da fala

Posto ambos servirem de alimento

Venenoso ao homem?

Até então

Pensávamos que a fome surgira do homem

Que o homem alimentara-se da grama

Que a grama brotara-se do pólen

Que o pólen alimentara-se de cuspes e almas

Que a alma surgira da matéria

E que a matéria surgira do homem

Ledo engano...

Desde o principiar do verbo

A carne não surgiu da matéria

A matéria não brotou dos microorganismos

Os microorganismos não nasceram da grama

A grama não apareceu dos polens

Os polens não passaram a surgir

Dos falos da fome

Porquanto a fome não há que imperar

No coração dos homens e almas

Já que ambos

Carregam sob a lapela de suas consciências

- saliva desse amor perfeito -

O gozo e o sacrifício

De nossas vidas

Tantas

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 17/07/2006
Reeditado em 05/09/2006
Código do texto: T195838