BORRA DE ESCREVER

Disse-me

Um anjo da fala:

- o lucro da piração de escrever

Está em atar-se à lavra da palavra

Que de dia chama-se Maria

E de noite goza-se Amélia vadia

- está em ater-se à regra feminina

- está em vestir-se

(dentro da fala)

De vermelho e preto

- está em desvelar-se o orgasmo

Do ponto de arranque

Disse-me

Que o ato de escrever

- é como matar a cobra

E não mostrar o vencedor

- é como mostrar o pênis

E não sacrificar o receptor

- é como servir o servo

E não coar o seu suor

Disse-me ainda

Que a borra de escrever do poeta

- é como ser e não ser

Já sendo breve nascida

- é como beber poesia galhada

Que embora embaralhada

Não se cansa de escarrar

Fina bulimia

Mas vejo

Que os anjos da fala

Não vomitam seus lamentos

Como reza o figurino

Não escrevem seus pesares

Como ensina o pensamento

Tampouco galam seus suores

Na fomedez da partida

Benny Franklin
Enviado por Benny Franklin em 17/07/2006
Reeditado em 06/09/2006
Código do texto: T195907