PELA FLOR
Será que se fôssemos amantes das flores
Chegaríamos a curar
Transas e gritos
E ativaríamos eternamente a fomedez
De nossas falas?
Será que se fôssemos misturados às encardidas
E contaminadas areias da praia
E às conchas insensíveis de nossos prantos
Desbundaríamos de vez sob os deleites
De fogosa meretriz?
A bel prazer
Hei de catar siri em espelhado córrego
E de rasgar seda com cana em meloso dique
- e olha que ainda me falta comer montão
De maniçoba e cereja
Porém de ferrão aceso eis aqui
À minha ilharga
A morbidez de meus dedos
E com eles hei de sobreviver às ferrugens
Dos talos destas insidiosas mangueiras
Tão cheias de poesias e galas
Que hoje: Hoje mesmo
A fim de não contaminar os fios da canção
Deverei rasgá-las das páginas
Do relâmpago elétrico
Em busca de especiosa raiz ...