De que me adianta?
Angélica T. Almstadter
De que me adianta ensaiar enredos
Perfilar um a um os meus segredos
Se nada que se gosta se enrosca na tez
Se tudo já se perdeu de vez
Nada ficou guardado, nem um mísero recado
Nem o gosto do desejo de leve tocado
Nada existe além das alianças
Nada que resiste e se veste só de lembranças
Pois que se a alma voa liberta, nunca esteve incerta
E se um rio não volve o curso, mantém direção certa
Jamais retornará à nascente
Jamais regará a semente
Pássaros de bela plumagem volitam
Mas os adejos da alma se estendem sem rumo
Pobres vôos sem prumos
Que nem em ensaios se qualificam
São só metades quando sonham
De fato de nada adianta ...
O cansaço venceu, o desejo recrudesceu
E a dama da caterva, se embrenhou desabrigada
Nos olhos da madrugada,sem reservas...desarvorada
Teve tudo e nada teve...e nem sequer esteve
Tanto que na luta se reteve
Que perdeu o leme...e jaz cativa, a deriva
Do alto da torre enclausurada
Mantém livre a alma leve e desbotada
Entregue aos olhares dos pássaros brilhantes
De vôos rasantes...insinuantes
Que bailam sob céu limpo e azul
Seguindo o Cruzeiro do Sul
Deixando atrás das grades confusas
Uma imensidão de lágrimas difusas