Sem Destino
Não me importa
o chão que vou pisar...
não me importa
em que tempo vou chegar...
Deito meus passos
nessa estrada...
sei que não vai dar em nada...
nada me espera...
e nada me prende
neste caminho...
Sigo sem direção...
seguindo o mapa
do meu coração...
Seja noite seja dia...
atravesso os ventos...
galopo nos ares...
uma mochila de saudades...
Mãos segurando firme os arreios...
direcionando o volante...
sempre enluvadas nesse guidão...
Apontados para o norte
de algum lugar...
perseguindo a linha
que encerra essa busca...
Tenho os olhos marejados...
a cabeça envolta nas esperanças...
o coração calejado de amores vãos...
e as mãos recheadas de sonhos...
Uns tolos outros sedutores....
meus sonhos meus senhores...
desejos distraídos...
ensejos repetidos...
expectativas jogadas pro alto....
rolando no asfalto...
Sem metas e sem pressa...
Coleciono os sóis
de cada dia...
que reparto em partículas
para abastecer de energias vitais
o meu corpo surrado...
Na mesma proporção que brindo
os olhares da lua no meu teto ...
pelas noites solitárias...
Enquanto teço com os os olhos
o rendilhado das noites
que me guardam...
Lanço açoites pelo ar...
nos uivos tribais que desconexo
canto pra marcar a fogo
meus passos...
e cavar sulcos
de cada solidão desejada...
de cada silêncio cometido
e consentido...
Eu amante das chuvas...
passageira da agonia...
estrangeira de mim...
redescubro e cada tarde
que morre...
pela navalha afiada da noite...
Que sou acontecimento
de mim mesma
em cada corte que me dou
a conhecer a minha carne...
Não sou seixo
que rola nesse rio..
mas o rio
que corre para o mar...
porque tenho a extensão
dos meus sonhos todos...
Não sou asfalto dessa estrada...
mas o próprio caminho ...
a guiar-me para o fim do nada
e para o universo de mim mesma...
onde sou o começo e fim...
Guiada pela força
que me sustenta no ar...
e me arrasta
impiedosamente
para dentro das
minhas entranhas...
Por mais absurdo que seja...
sou a metade de mim...
e a outra metade de ti...
Sou a Gênese..
e sou o fim...
antes do que pode
advir...
Brinda então comigo...
o que não tenho...
os chãos que não pisei...
os passos que ainda não dei...
as estradas que nunca passei...
Brinda comigo
essa febre que não cessa...
essa fome que não sacia...
essa sede que não morre...
essa caminhada
Sem Destino...