Ao que vens, homem...
Angélica T. Almstadter
Me inventarias se eu não existisse
Se não te enchesse de más intenções
Porque me advinhas pelos cheiros noturnos
Pelos cios esparramados nos cantos da casa
Pela fala mansa...pelo atropelo das falas
Deixo raiar em ti a esperança
Para lambuzar teus lábios com meus beijos
Talvez solerte me sorrisses
E nas noites de lua me fizesses canções
Nunca me buscarias com ares soturnos
Talvez me entendesses e me desses asas
Nas muitas vezes que sem me procurares...te calas
Quando eu me perco do meu eu criança,
Quando não te alcança meus desejos
Te abeiras das minhas poesias quebradas
Entre soluços, nas noites de amor adoentado
Sabes dos meus choros as escondidas
Dos meus pálidos sorrisos pra toda gente
Ainda assim te assenhoreias das minhas verdades
Me algemando nos teus pesados grilhões
Me inventarias mil vezes para me teres em combate
Pois sou pássaro de asas cortadas
Que silenciosamente te aceito atormentado
Naufrago meu medo de outras vidas, nas tuas saídas
Embora me apegue ao teu cantar dolente
Sou remédio para as tuas ansiedades
Aconchego seguro nas tuas indecisões
Ave presa no teu regaço...pronta para o abate