Homenagem a Fernando Pessoa

Homenagem a Fernando Pessoa

Inesquecível Álvaro de Campos: saudades e emoções

“pobrezas”... e transparências humanas

(Luiz Mario Padilha, com participação de B.J.Duarte)

Pobres dias de minha vida!

Caem, nestes últimos instantes, por sobre o meu ser,

Uma angustia recheada com flocos de lágrimas gélidos, gélidos...

E uma vontade de chorar, apesar de faltar aquele aperto cardíaco:

Confusão dos ritmos emocionais de uma alma tristonha!

Pobres deuses terrenos!

Pobre de mim que nada fiz de útil até hoje.

No deserto glacial morreu o romântico.

Em trincheiras de guerras internas morreu o herói.

Caíram todas as pétalas da rosa que ganhei de um amor desconhecido.

Morreu o utópico, o vencedor de toas as batalhas historicamente grandes.

Um dia sonhei e vivi longe do chão.E agora, o que sobrou?

Sobrou o nada que sou, mas existo. E isto é tudo!!! Existência.

Pobres dias de minha vida!

As amizades, perdi por ocasião de minha inutilidade;

Os amores? Estes nem os percebi;

A solidão vestiu-se de noite escura e acampou em meu peito.

A caridade? Nunca me amei.

Vivi debruçado na janela de meus sonhos.

E esperei ser amado...

Oh fé! É você que procuro. Deus, dê-me fé, só isso lhe peço!

Pois é grande a busca e os pés já estão cansados.

Não raro fico indeciso quanto ao caminho seguir...

O calvário é para homens corajosos, intrépidos, humildes;

E a cruz, para os que amam sem medidas.

“Senhor, dê-me o nada, pois já se esgotaram os meus pedidos”;

Antes, porem, dê-me o Cristo que é o tudo.

Só isto lhe peço, oh meu Deus!

Dê-me antes a coroa de espinhos!!!

E abra uma chaga em meu peito, oh Senhor das dores!!!

Esta “vila velha” que bebo para ficar de pileque,

Leva-me ao esquecimento das coisas racionais...

Penso, porém, nas casas noturnas, nos prostíbulos, nas meretrizes de “profissão”,

Corações ainda virgens que nunca viram o olhar do amor!

Dos bares que nunca entrei, conheço todas as bebidas; todos os cigarros;

Todos os tacos de sinuca, toso os jogos do sub-mundo, todos os bêbados.

Dos becos e vielas que nunca passei; conheço todos os marginais dos grandes crimes;

Todos os maltrapilhos que um dia foram ao esquecimento por serem maltrapilhos;

Todos os mendigos; conheço todos os pixotes que um dia nasceram,

E que já no primeiro choro sentiram a dor do abandono.

Oh meu Deus!

Conheço tudo, e nem assim faço alguma coisa!

Pobre de mim que nunca passei e nem tentei entrar nessa vidas,

Para amenizar suas dores e enxugar seus prantos!

Nunca caminhei descalço por estradas longínquas.

Nunca senti fome, nunca fui abandonado e nem traído pelos desfavores da vida...

Pobre de mim!

Quantas frases bonitas ouvi;

Quantas escrevi!

Quantas vezes falei de amor... e nem assim consegui amar concretamente meu próximo!

Pobrezas!!!

Tenho saudades de Álvaro de Campos...

Rosas vermelhas num jardim de gloriosa melancolia,

Encravado às margens de um sonho tão rubro...

Quero ser feliz amanha,

Dia de rosas brancas e girassóis.

(Publicado como forma de homenagear meu grande e inesquecivel amigo e parceiro Luiz Mario Padilha)

BJ Duarte
Enviado por BJ Duarte em 27/07/2006
Código do texto: T202936
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