Absolvição

Porque não me tombas de vez?

Se teu frio em minha espinha passeia,

Batizes minha fronte suada.

Liberte-me das garras desse corpo cansado,

Dessa voz rouca, entrecortada.

Se te assentas à minha mesa,

Nesse convívio imposto e diário,

Cercas meus olhos, calas em mim as palavras;

Enquanto vertes absinto;

Que em doses me fazes tragar.

Porque não me abrevias as horas?

Porque não me dissolves a essência,

Anulas esse gosto hostil;

Que trago na boca amarga,

Nos olhos de eterna ressaca.

Porque me dás o gozo do céu

Na alma branca, bailarina, criança...

E o fogo do inferno no corpo cativo;

Submisso e covarde...

Porque não me tombas de vez

Sem aliança, sem véus,

Sem herança;

No silêncio que me amanhece,

Ou na prece que em mim anoitece?

Porque me gelas os pés e as mãos,

Acendes em brasas o coração,

Limitas meus passos,

Me aprisionas em esperanças miúdas...

Porque me espreitas curiosa,

Me impões horas escuras, sizudas.

Porque me abraças no leito;

Ameaças a minha razão.

Me tombe de vez no sangue vertido,

Faças cessar o desamor e a luta;

Há de haver algum sentido,

Nessa guerra de desamor e desesperança.

Faças cessar o gemido abafado;

O choro escondido atrás do riso,

Craves de vez meus olhos, nesse horizonte sem rumo,

Abarques meus sonhos vivos e vazios,

Cesses dos meus ossos, esse imenso frio

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 28/05/2005
Código do texto: T20340
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