Amor transcendental
Já são altas horas
E me encontro acompanhado da velha companheira,
A inesquecível solidão.
O frio terrível penetra-me até aos ossos,
E permaneço sentado ao lado de uma velha garrafa
Contemplando a lua, e pensando em você.
Talvez possa imaginar que estou bêbado
Em algum bar ou à beira da calçada,
Mas na realidade encontro-me em meu quarto,
Buscando encontrá-la vagando pelo infinito
Na esperança de vê-la ao menos por um instante
Para depois poder dormir em paz.
Loucuras pensei fazer,
Mas depois de muito a esperar
Encontrei uma nova formula de amor
E descobri, querida, que apesar da distância
Posso tê-la junto a mim.
O amor não se reduz, como eu pensava,
Ao simples materialismo.
Pelo contrario, é muito mais forte, pode crer.
Agora a amo abstraída de toda materialidade,
Com amor simples, singelo, e
Puramente transcendental.
Não preciso, amor meu, tocá-la, e
Abraçá-la, beijá-la, é secundário.
A essência do amor está muito alem,
E já a vejo, como uma deusa,
Percorrendo distancias, ultrapassando barreiras,
E, misteriosamente, permanecendo a meu lado.
Inicia-se a madrugada
E o frio mais e mais, como espadas,
Corta fundo minha carne e penetra em meus ossos.
Mas o que é isto quando se ama?
Continuo feliz por estar acordado
E amando de uma forma diferente,
Com um amor abstraído de tudo o que o materializa:
Amando-a transcendentalmente.