CAIXAS EMPOEIRADAS COM LAÇOS DE SANGUE
Buscando
aquela que é
não a encontro
nas esquinas
ou nas caixas de maquiagem.
Esta existe.
Está.
Mas não é a que é.
Antes, encontro-a
nas falas baixíssimas
de velhas benzedeiras
e em sua sabedoria cheia de rugas.
Nas suas saias longas
e em seus negros
xales de croché.
Ela persiste, insiste
e existe nas vielas
hoje, etéreas, da criança.
Na fala de minha mãe, sorridente,
à beira do fogão a lenha
"Agora não, menina, que está quente"...
Aquela que é não está exposta.
Está guardada na imaginária caixa,
empoeirada, quase decomposta,
que o tempo não envelhece,
amarrada com o laço vermelho
do sangue de nossa história.