Poeresia

em mim

não há chaga

ou praga

nada de mágoa

ou coisa que

afoga

quem não nada

não entra

na água

calo também

a mão que

afaga

é a mesma

que segura

a faca

não espero

nem quero

que se evite

o erro

sou eros

e nero

no desterro

ao meu

império

austero

sustento

o andar

lunático

e funéreo

insevero,

tépido e

sincero

não guardo

nada que

me faça

mal um

dia

nem mesmo

a própria

poesia

sei que

se pudesse

ela me

trairia

numa manhã

fria

de orvalho

nada custo

nada oferto

nada valho

até mesmo

no gato

que mia

fiz vasectomia

e meu solo

infértil

não produz

nada além

que cartucho

sem projétil

na minha

natureza

nada se

cria

nada se

forma

tudo se

conforma

tudo se

deforma

apaguei

a luz

do amor

também

não ascendo

à dor

não sinto

calor

com o

passar

dos anos

e o

pesar

profano

foi-se

um naco

do meu

suor

expurguei

também

minha

misericórdia

não digo

amém

à concórdia

celebro

indiferente

a horda

de discórdia

não temo

o cão

que me

morde

me engalfinho

secreto

no verso

que teme

e desafia

a morte

não possuo

norte

sou

desnorteado

assim peregrino

sonâmbulo

as rimas

do meu

canto

as quinas

do meu

antro

as esquinas

do teu

santo

ejaculo

o sêmen

do pensamento

e fertilizo

o insano

sentimento

sei que sou

proscrito

em mim

mesmo

mas nunca

a esmo

aprendi

a voar,

pois quando

o trem

passar

quem tem

passagem

virará

bagagem

sou uma

bala

de festim

mas não

mala

a caminho

do fim

nada sei

tudo

soo

suo

como

cloro

urbano

como

poro

humano

que

expele

toda a

impureza

que não

absorvo

sorvo

venenos

dreno

a embriaguês

do mundo

em etileno

e observo

atentamente

o cervo

calmamente

a pastar

feno

retardo

o tempo

aguardo

a lua

sou filho

bastardo

à noite

crua