RAÍZES

Numa noite

O vento

Feito um açoite sem tréguas

Trouxe grito de forças

Que queriam varrer a Terra

Como se fosse a minha casa

Uma ferida

E a cidade,

Uma chaga pestilenta

Plantada sobre a pele do Cerrado...

Houve o medo,

O medo ancestral,

O medo visceral,

Vindo aos olhos

E eu pude ver,

Nos claros das vidraças,

O mais remoto de mim,

Ainda um quase bicho,

Achando o nascedouro de tantos deuses,

De tantas dores, horrores e ais...

Quem dera tivesse visto,

O tenro ver da consciência recém desperta

Na matriz humana ainda grotesca,

Nos clarões dos seus medos,

A serena verdade

Do saber de si

E o porquê dos seus olhos ver...

Tivesse não criado pelos ais

Da sua infante consciência

Tantos deuses, trazidos até aqui,

Em busca do saber de si,

E não veríamos hoje

Tanto horror nos Sistemas,

E tantas leis e filosofias, feito redes,

Para capturarem o seu Deus preferido

E, em nome deles, mantendo tantos vivos

Presos à multidão de mortos para alimentar

O poder da política-divina com o sangue

De novos e inúteis mortos...

Tão mais fácil seria

Que, talvez, o vento

Não tivesse razão

De querer limpar um cantinho da Terra

Da presença pestilenta

Da consciência que ainda não acordou...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 01/08/2006
Código do texto: T207200
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