A Casa abandonada XIV Deus é uma árvore escrita por todos
Deus é uma árvore escrita por todos,
Quando Deus quer, e quer sempre,
Apesar da prosápia bem escrita
em desvelos de escritório,
disse-o Paula Rego, Cesariny, Otelo e o Sr. João.
Deus é mesmo Deus, não tenho dúvida,
Se assim não fosse o velho catecismo da casa,
Não podia existir.
E o que acontece, agora na nova casa, que não tem catecismo,
É que eu também o encontrei, nas arrumações,
E nos cozinhados e a trabalhar,
E não é preciso andar direito e não ter poliomielite,
E encasacar,
Escusam de beber chá e definir,
Trabalhem, dêem graças também aos outros de vez em quando,
Façam compressas nesse nariz a sangrar.
Pois é que eu desde menino ouvi outras histórias dessa gente,
E agora só rezar ou obrigar?
Tá bem, agora é poesia, pôr o rio a cantar.
Ai que lindo rio, por essa vereda vou encontrar,
Pois ou de outra maneira jogando na 1ª divisão poética,
Pois, tá bem, olhem, olhem para o que escrevo,
Talvez fizesse bem,
Bem cedo no piquenicar.
Também gosto do rio, também faço passeios,
Também almoço de guardanapo, mas não é preciso sempre lembrar.
Deus existe, no deserto aberto claro,
Depois da descoberta do átomo,
Depois de chorar.