A Casa abandonada XIV Deus é uma árvore escrita por todos

Deus é uma árvore escrita por todos,

Quando Deus quer, e quer sempre,

Apesar da prosápia bem escrita

em desvelos de escritório,

disse-o Paula Rego, Cesariny, Otelo e o Sr. João.

Deus é mesmo Deus, não tenho dúvida,

Se assim não fosse o velho catecismo da casa,

Não podia existir.

E o que acontece, agora na nova casa, que não tem catecismo,

É que eu também o encontrei, nas arrumações,

E nos cozinhados e a trabalhar,

E não é preciso andar direito e não ter poliomielite,

E encasacar,

Escusam de beber chá e definir,

Trabalhem, dêem graças também aos outros de vez em quando,

Façam compressas nesse nariz a sangrar.

Pois é que eu desde menino ouvi outras histórias dessa gente,

E agora só rezar ou obrigar?

Tá bem, agora é poesia, pôr o rio a cantar.

Ai que lindo rio, por essa vereda vou encontrar,

Pois ou de outra maneira jogando na 1ª divisão poética,

Pois, tá bem, olhem, olhem para o que escrevo,

Talvez fizesse bem,

Bem cedo no piquenicar.

Também gosto do rio, também faço passeios,

Também almoço de guardanapo, mas não é preciso sempre lembrar.

Deus existe, no deserto aberto claro,

Depois da descoberta do átomo,

Depois de chorar.

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 02/08/2006
Código do texto: T207286