A Casa abandonada XV A bicicleta tinha uma mudança

A bicicleta tinha uma mudança

Que fazia uma cor, por detrás das árvores,

Acontecia a praia, mudava-se de Leiria para a Figueira

Com a casa no colo, a encher o meu primo e o automóvel,

Brincava-se ponto final,

O Pedro construía a areia,

Que mais tarde era um carro,

A Mila não se ouvia, e a Goreti sorria,

Não tinha nascido ainda o Miguel,

Nem o Walt Disney, nem o Lhó,

Que era muito bom,

Brincávamos no mar ao pé da vida séria dos pescadores, e eles gostavam de nós.

Andávamos de bicicleta a pé, na corrida para a maré,

Um Atlântico poderoso, que nós não sabíamos ainda.

O Hotel e as Berlengas na campainha do teleférico da Nazaré.

Passeio de esferográfica na mão, ouvindo Rui Costa poeta a cantar,

Por exemplo, um gelado, sorvete parece que tem mais graça e também diz no Brasil.

O que quero agora é andar de bicicleta, ou a pé.

Não posso, tenho a Figueira da Foz pedindo boleia,

As moças explodindo nas camisolas fazendo cafuné.

Não gosto de poesia, prefiro a química do pé.

Pois tá bem, cá fico no rodilho da estrada para a Figueira,

Bebendo uma bica ou café.

Qualquer dia entrego a bicicleta,

Mas tenho que pedir desculpa ao patrão:

A bicicleta tinha uma mudança!

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 02/08/2006
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