“História de um poeta”

Sempre o via passar pela rua dos poetas

E nas esquinas incompletas

Se embriagar de saudade e insensatez

Lá ele bebia tanta dor

Ao lembrar de um louco amor

Que lentamente sua poesia se desfez

Perambulava pela madrugada

Cambaleando pelas calçadas

Buscando um corpo como cais

E se entregava à revelia

Ao bel prazer do que bebia

Sem esquece os abraços que não tinha mais

Sempre o via chegar pelas manhãs, quieto

Trazendo um sol incompleto

Cheirando bebida e desilusão

Jogava o branco paletó de linho

E o corpo amarrotado pelo descarinho

No frio e empoeirado chão

Quando a tarde já se avizinhava

E ele lentamente levantava

O corpo exaurido pela boemia

Lavava o rosto enxovalhado

Comia um pouco do alimento guardado

Sem sentir o gosto do que comia

Voltava a deitar e novamente adormecia

E sonhava com os beijos que um dia

Recebera de um alguém

A noite logo o despertava

E ele recomposto se entregava

Pelas esquinas aos lábios de ninguém

Um dia, o vi cair na sarjeta

De braços dados com uma ninfeta

Que cheirava a bebida também

E lá ficou por toda noite

A sofrer da madrugada o açoite

Encoberto pela solidão que a noite tem

Nunca mais vi aquele poeta

Que teve uma história repleta

De dor e desilusão

Ele que teve uma vida conturbada

Preferiu a solidão da madrugada

Onde se perdia entre os copos de então

Parece sina de todo poeta que ama

Uma vida incompleta tal qual chama

Que lentamente se esmaece

Espelho meu, que espelha

Essa chama, essa centelha

Afasta deste teu poeta o amor que não floresce