A Casa abandonada XVIII Liguei só para dizer que já estou na casa nova

Até já fui ao cinema

Estou lá na nova, há já uma semana,

É formidável, mas já fui ao café, pensei nela,

Mas ela já está nova também. Mudou muito,

Todos melhor, novo. Eu até acho que sim,

Mas não sei se é para durar.

Socorro estou fechado na cozinha, o pato fechou a

Porta à chave, como a minha avó, presa como uma galinha,

e eu sentado no divã. A História repete-se o homem é que não.

Está estudado, o homem sofre evolução, como a sociedade, no percurso dialéctico não sei bem de quê. Mesmo o dinheiro, ontem era escudo,

Hoje euro mais que o dólar, só a libra não sei quê.

Ai se eu tivesse um Megafone, ligado em rede, do plasma ao pc,

Acordava esta gente, que se derrota facilmente, Oh homem viver para quê?.

A casa nova perfeita não tem jardim, tem o tal Pinheiro, pintada de amarelo,

E pronto, põe lá o divã,

A escrivaninha não é um quarto, é a minha voz,

No espaço comum do prédio, pronto, o barbacue.

Ou sem barbacue, com automóvel à porta, ou sem

Arroz simples mas não chinês, pudim flan holandês.

Já penso noutra casa nova, só com colchão de água.

Ou com elefante a tirar água, a beber teatro aberto,

No esplendor da relva por fim.

Se calhar isto é ainda muito burguês, não é por ser rico,

É a inutilidade que me chateia, da falta, falta-me melhor palavra,

Fraternidade.

Mas isso já é outra história, sem interesse algum,

Não tem poesia, verbos mediáticos, não engrandece o firmamento.

Falta-me a realidade, falta-nos.

Mas é tão tarde,

Desculpem-me,

Liguei só para dizer que já estou na casa nova.

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 03/08/2006
Código do texto: T208042