A Casa abandonada XXVI A morte saiu à estrada

A morte saiu à estrada, num dia terrível,

Um pressentimento, tarde de mais,

Já não tenho o meu filho,

Mataram-no na estrada.

É uma dor grande de esquecimento,

De perder.

Era um grandíssimo rapaz, não tinha palavra

Que encontrasse para o dizer.

É o nosso filho pois claro também

Não estamos preparados para isso,

Nem podemos, julgo eu.

Desaparecer, é mais duro que isso,

O sol não se canta assim,

E era o que eu sabia.

Voltei lá, tinha uma sapatilha no chão do quarto

O automóvel atirou-a para depois do muro.

Fica tudo diferente, como Van Gogh,

aquela seara sempre com vento.

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 06/08/2006
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