RAIVA

R – A – I – V – A

Apenas um vocábulo a mais.

O que contém ele,

Além de duas consoantes e três vogais?

Além do azul da tinta?

Além do preto impresso nos jornais?

A pequena palavra transposta

Do plano lingüístico para o ser,

Para as veias, para as mãos,

Explode-se e ai mesma

- voam as consoantes e vogais

E o azul se torna sangue

E o preto, noite.

Turbilhão violento devora vorazmente

Qualquer laivo racional

Arrasta, puxa para o fundo

De um poço descomunal.

Após o mergulho insano

Apalpando quase às cegas os destroços

Flutuando na superfície quase calma

É possível numa nova reviravolta louca

Destruir mais ainda os restos.

Fazê-los serem tragados novamente

Impedi-los a qualquer custo que voltem à tona

Olhos secos.

Sem dor, só RAIVA.

Será ela uma raiva cega,

Permanente,

Presente

De impossível restauração

Sentimento sempre crescente

Definitivo...

Após o mergulho insano

Apalpando quase às cegas os destroços

Flutuando na superfície quase calma

É possível recompor a forma anterior

Esmerando-se nos detalhes

Colocando-a longe de um provável vendaval

Cuidando para que não se perca nunca.

Derrubando uma lágrima de perdão

Sentindo a dor aguda

Ela era raiva de amor

É azul, é dia.