o voo enrolado da borboleta branca da noite

o voo enrolado da borboleta branca da noite

é como uma valsa sem tempo

que percorre todos os passos das ruas, na noite, em Leiria

é, pode ser, um pequeno fragmento de pólen da flor ou do dia

a graça de existir, apesar de rídicula, está nestas frestas a que chamanos momentos

a borboleta enrola mais o voo no adro da sé

e a luz faz o degredo das pedras que só os românticos sentem

Leiria é a montanha que todos fazemos crescer

o tempo circula nas vielas como o vento nos cedros

fazendo a noite ar sem sufoco

as bicas nas esplanadas são a glote dos urros e segredos

a cal branca das paredes e dos muros famintos

a aguarela do precípicio e o platinado das saudades

o incrível é que a borboleta continua voando

e escreve a poesia toda das paisagens e das lágrimas

eu só sou aquele que levanta e baixa os vidros eléctricos do automóvel

as sílabas, são o meu canto herético

por tanto amar

e por fazer ar com o respeito e o silêncio

Constantino Mendes Alves
Enviado por Constantino Mendes Alves em 22/08/2006
Código do texto: T222385