TERCEIRA PELE

Sensível,

quase invisível,

roçou-me sutil

até aprazer o fechar de olhares.

Frios,

quase involuntários,

suores desandaram a escorrer

sem sentido pelo corpo

passeando pela alma em pelo

pronta para o primeiro afago nu.

Macia,

quase envolvida,

alinhavou-me em fios

até tecer as bordas dos braços.

Enroscadas,

quase tropeçadas,

pernas trocam de mal, trançadas

das coxas ao solado do pé

cruzando os dedos trocados

prontas para caminhar no sono.

meu cheiro é seu

e sua essência é minha

porque moramos sob a mesma pele.

Sentida,

na seda da umidade

dos truques bifurcados da serpente,

a ponta da língua embolada

seca lençóis, escassos!

A água quente do banho

- não tão necessário –

fez um pelo sinal aos irreverentes,

enquanto ela,

silenciosa e calada,

repousa em nudez consentida.

Amanhã,

num novo arrepio,

lembraremos das espinhas adolescentes.

Amanhã,

em nova posição,

queimaremos os manuais do kama-sutra .

Amanhã,

ainda desacordados,

enxugaremos as inseparáveis toalhas felpudas

e os monogramas na pele

ressecada pelo banho.