OLHOS DE BORBOLETA

de olhos na janela,

antes do tempo pôr-se a andar,

ela viu o mundo aceso

as borboletas de cor

a cor do céu

o mistério

Ainda há cheiro de vaga-lumes

desaparecendo no ar.

de olhos na janela,

antes da vida resolver acontecer,

teve medo dos defuntos

dos cravos na lapela

dos lírios na sarjeta

da cova rasa

sem gente.

Ainda há cheiro de éter no ar

mendigando claridade.

Os olhos de borboleta,

presidiários invisíveis da vidraça,

querem enxergar a liberdade

bater asas, como aplauso,

ao acaso da escuridão

do relógio que anda

desumano.

O dia ainda é um casulo:

Sábado é quase Domingo!

Os olhos de borboleta,

libertários de qualquer confissão,

querem tentar levar consigo

todos os míseros pecados

do mundo já acordado

vestido com o véu

das beatas.

Ainda não é hora do sino:

Faltam dez pra seis!

Os olhos de borboleta,

depois do cochilo do sacristão,

fez um calço reforçado

com as asas e fugiu

para um chamado

bem celestial!

Coitadinha,

a borboletinha míope

foi esmagada pelo badalo cruel.

Quanta saudade de vidraça!...