Sala

a gravata já não vestia, estrangulava

e os ponteiros no pulso cutucavam a superfície.

um par de olhos sentados, apáticos-

os peixes finalmente não morreram:

talvez fosse o medo da queda

ou a simples sede de sangue

tal que o pai-tempo rasurou os filhos

como se fossem livros

e o baque fora sentido como se não houvesse culpa

e a culpa, uma vez retórica morta, em liras

assinava os termos

resignando a carne

os símbolos eram feitos de isopor,

friccionados contra o caminho de asfalto que cruzava

o peito

as imagens passam de mórbidas para empíricas

todas as cinzas no cofre

as algemas e os ossos

salpicando as feridas com pimenta do reino

(as outras que não minhas)

escravizar a dor e potencializar os erros

subverter os instintos metafóricos

e transformar a existência em uma árvore rabiscada no papel.

giz de cera e tinta acrílico;

são as cartas na mão

quando a faca já fora devolvida

declarando guerra à prosperidade e

afogando a seco as reticências nessa sopa de letrinhas

(de volta à sala)

a pertinência de Cronos era apenas o elogio evasivo de um espaço-vácuo,

agarrando com as unhas os ponteiros e vociferando vermelhas entrelinhas.

Augusto Guimarães
Enviado por Augusto Guimarães em 29/08/2006
Código do texto: T228156