Poesia de Bolso 46 ( Modus Vivendi )

MODUS VIVENDI

Li sem espanto a notícia

Do massacre das crianças

Que dormiam na calçada.

E chorei de me dar pena

Pela dureza dos olhos

Ante a chacina estampada.

Fizeram de mim o avesso

Dessa gente que às avessas

Vive entre o espanto e o medo?

Como posso estar sereno

Vendo a nau dos afogados

Sobre a tormenta do asfalto?

Não quero mais essa calma,

Enquanto a fome ordinária

Rói os últimos escombros

De minha civilidade.

( Hoje, ao olhar-me no espelho

Vi um macaco assustado... ).

Por respeitável silêncio

Morre de tédio o poeta

Que se dane a poesia

Se longe das fomes do mundo!

Aldo Guerra
Enviado por Aldo Guerra em 31/08/2006
Código do texto: T229450