O BEIJO DA MORTE E OUTROS OLHARES

“A morte é passagem para a vida definitiva”.

(2 Coríntios, 4, 16-18 e 5, 1-10).

Numa tarde fria do mês de agosto

a morte chegou sem dizer nada

e foi enleando em seus braços,

sem mais tardança,

quem tranqüilo dormia.

Era logo a hora da sesta

que faz parte do costume

e que vem de muito longe,

desde que hispanos e lusos

combateram nestas terras.

Desconcertante é a face da morte...

Talvez tenha havido uma árdua luta,

o corpo baqueado transpirava em profusão

e ainda exalava um cheiro farto

que não era de todo incômodo

- um misto de suor com alfazema.

O choro abafado da filha

debruçada por inteiro

sobre o peito inerte do pai

era tão pungente

que molhava os nossos olhos.

Na tarde fria o pranto prosseguia,

prosseguia também o cheiro de alfazema

acompanhado apenas do balbuciar de preces

e da sensação inelutável de nosso próprio fim,

com uma melancolia em compasso de espera.

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 01/09/2006
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