CÓDIGOS
Um dia após o outro
Eu pensei que fosse fácil
O jornal avisou: "nublado"
Ninguém na caixa do correio
Crianças brincam na trincheira
A luz queima as folhas de outono
Números de mortos
Recebo a notícia velada
Bocejo ainda a madrugada
Miro o retrato e o silêncio
Abandono a existência estática
Observo os ponteiros
E os pés, que calço
Sobre manhãs coloquiais...
E eu pensei que fosse fácil
Dividirmos o mesmo espaço
Segunda-feira: ‘seis horas’
Luto e reluto como "o velho e o mar"
Engulo o café amargo
Observo o vermelho
Espero a vida passar
Ressinto minha calma, intrépida
Não há química entre nós
Resgato na memória
O universo relativo
Antibombas ou antidepressivos
Campos de concentração
Campos de refugiados
Um dia após o outro
E eu pensei que fosse fácil
Conectar-me ao sistema:
Códigos, dígitos e senhas
Digo ‘alô’ a quem nunca existirá
Entre livros e paredes azuis
Decanto minha impaciência
Doutrino os meus medos
Sofismo minha melancolia
Qual chave fora perdida
Quantas portas se fecharam
Qual caminho a mim ilude ?
A bússola avisou:
‘ Não há lugar para todos’
É sangue frio jorrando das veias
A seiva da realidade virtual
Por onde anda a sanidade
Quando os loucos somos nós ?