CÓDIGOS

Um dia após o outro

Eu pensei que fosse fácil

O jornal avisou: "nublado"

Ninguém na caixa do correio

Crianças brincam na trincheira

A luz queima as folhas de outono

Números de mortos

Recebo a notícia velada

Bocejo ainda a madrugada

Miro o retrato e o silêncio

Abandono a existência estática

Observo os ponteiros

E os pés, que calço

Sobre manhãs coloquiais...

E eu pensei que fosse fácil

Dividirmos o mesmo espaço

Segunda-feira: ‘seis horas’

Luto e reluto como "o velho e o mar"

Engulo o café amargo

Observo o vermelho

Espero a vida passar

Ressinto minha calma, intrépida

Não há química entre nós

Resgato na memória

O universo relativo

Antibombas ou antidepressivos

Campos de concentração

Campos de refugiados

Um dia após o outro

E eu pensei que fosse fácil

Conectar-me ao sistema:

Códigos, dígitos e senhas

Digo ‘alô’ a quem nunca existirá

Entre livros e paredes azuis

Decanto minha impaciência

Doutrino os meus medos

Sofismo minha melancolia

Qual chave fora perdida

Quantas portas se fecharam

Qual caminho a mim ilude ?

A bússola avisou:

‘ Não há lugar para todos’

É sangue frio jorrando das veias

A seiva da realidade virtual

Por onde anda a sanidade

Quando os loucos somos nós ?

Franciane Cruz
Enviado por Franciane Cruz em 14/06/2010
Reeditado em 04/07/2021
Código do texto: T2319564
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.