O RÉU

O RÉU

Victor Jerónimo

Eram vinte,

trinta,

quarenta,

cinqüenta de uma vez

e todos tinham razão,

menos um, que era o Réu.

Réu coitado não fala

não expõe sua razão.

Porque se ele abre a boca,

quarenta e nove a fecharão.

Falam os quarenta e nove

de toda a sua razão.

Mas cada um com a sua

não conseguem opinião.

Réu coitado quer falar

Expor as suas razões

Mas assim que abre a boca

quarenta e nove impedirão.

Dura isto há tanto tempo,

que os quarenta e nove,

velhos estão.

O Réu coitado continua,

sem ter a sua razão.

Mas que razão assiste

na razão e no falar?

Estarão todos enlouquecidos?

E não sabem o verbo amar?

O pobre coitado do Réu

continua sem falar,

Mas seus pensamentos não calam,

ele sabe que vai ganhar...

Quarenta e nove, com razões

que nem razões são.

Pois em seus pensamentos

não há o verbo amar.

Tanto tempo já passou...

Dos quarenta e nove ficaram quarenta.

Depois, trinta, vinte,

resta agora só o Réu.

Réu que agora fala,

mas ninguém o pode ouvir,

todos se foram no tempo,

só ele ficou por aqui.

Mas que fez este Réu?

Que crime cometeu?

Criou a palavra Vida

e adicionou-lhe o Amor.

Tão só o Réu ficou

E sem ter com quem falar

Que novamente cometeu o crime

De escrever e poetar.

Quem sabe alguém a leia...

e algum dia, todos possam...

Voltarem a falar!...

Recife, 10-02-2004

Victor Jerónimo
Enviado por Victor Jerónimo em 06/09/2006
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