ÓBITO: OVERDOSE

ÓBITO: OVERDOSE

Victor Jerónimo

Era um menino de boas famílias,

Daquelas que têm quase tudo na vida,

Este quase, subentende que algo falta,

Faltava o amor e carinho nos corações,

Para eles o dinheiro era tudo e com ele

Tinham o poder e até o amor comprado.

O pai viajava muito, por muitos países

A mãe sentia-se só e viajava também,

O filho esse ficava entregue aos avós

Os únicos que com desvelo e carinho

Tão bem sabiam cuidar do seu neto,

Apaparicando-o, amando-o, acarinhando-o.

Mas a vida é muitas vezes madrasta,

Esta não contempla os designios humanos

E eis que doença fatal acomete a avó,

Esta se foi num dia cheio dos raios do sol,

O avô coitado ficou tão só e sem vigor

Que um dia pôs termo à sua vida.

Coitado do neto, que nasceu sem culpa

Fica só, entregue a uma ama de companhia

Que só roubava o que naquela casa havia.

E o menino esse crescia a cada dia sem amparo

Sem o carinho devido a tão tenra idade

Crescia assim num desamparo moral.

Eis então que, decisão das decisões dos pais

Vão de pôr o menino num colegio interno,

Daqueles de onde nunca se sai, como uma prisão.

Prisão doirada é certo pois o dinheiro tudo pode

Mas de onde nunca se sai nem em excursão

Numa pena a ser cumprida por um inocente.

Pena que este paga na terra pelo pecado

Dos pais, que viajam cada um em sua terra.

Bons hoteis, bons amantes e tudo o mais

Enquanto o filho esse, definha na prisão doirada

Sem amor, sem carinho e sem sequer ilusões

Dia a dia cresce aquela criança, assim sem culpa.

Visitas tinha-as dos pais, sempre desencontrados

Porque a direção avisou: “Vosso menino não pode mais

Ele precisa de vós do vosso carinho e amor

Porque senão vai ser um ser humano de dor

Ou pior ainda um revoltado para com a sociedade

Daqueles que só na morte descansarão”.

Pais desnaturados e sem amor próprio

Que seguiam uma vida sem lar nem norte,

Lá tinham que se sacrificar e visitar o filho

“Menino venha comigo, vamos de férias

Vamos conhecer outros países e gentes

Temos hotel de luxo, piscinas e iates”.

O menino ansiou pelo mundo e pela vida

Iria viajar com a sua mamãe querida

Conhecer o que este nunca tinha visto

Enfim, sentir o poder e força do dinheiro

Pois tinha sido essa a sua grande educação

E preparação para a vida, mesmo que madrasta.

E foi naquelas férias que o seu destino foi traçado

Naquele hotel de cinco estrelas pleno de luxos.

Mamãe coitada não tinha tempo para ele

E este ficou entregue aos filhos dos amigos,

Filhos estes que já há muito tinham suas vidas

Marcadas no ferro e fogo do consumo das drogas.

E o menino, aí entrou pela porta grande

Com a pompa e circunstância devidas

Aí a provou e sentiu o seu prazer,

Devorando suas entranhas e sentidos

Que lhe toldava a vida e o fazia esquecer

Em noites de orgias regadas a drogas.

Muitos anos se passaram e o menino

Fez-se homem, homem que continuou sem rumo

Sem carinho ou amor dos pais agora separados,

Frequentou clinicas de desintoxicação

Roubou para matar o vicio e esteve na prisão

Dia a dia definhamdo cada vez mais e mais.

Seus sonhos eram diferentes dos nossos

Queria deixar aquele vicio que o corroía

Queria ser normal, ver o sol e lua

Queria encontrar o amor ou apenas a amizade

Até que um dia seu corpo cedeu à doença

E este num misto de medo terminou consigo.

Óbito: Overdose

Coitado, mais um que terminou seus dias

Escolhendo o caminho mais fácil

Porém o mais cruel, que um jovem

Na flor da vida tem que escolher

Por falta de amor e carinho.

30.Set.2005

Victor Jerónimo
Enviado por Victor Jerónimo em 06/09/2006
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