Labirintos
Angélica T. Almstadter
Nada em mim é oblíquo,
Nessa ambigüidade em que vivo.
Não descarto a linearidade,
Nem me afasto do contínuo,
Porquanto bem convivo,
Com a expressão da minha verdade.
Sou ponto de fusão distinto,
Na realidade vigente,
Artéria em ebulição;
Desfilando nesse labirinto.
Vivo entre o partir e o voltar,
A um eterno e mesmo limiar.
Prêmio ou castigo?
Da minha condição inconseqüente,
Altamente comburente,
Que não se afina no universo,
Porque morre em cada verso.
Não são rimas tolas que construo,
Nem palavras combinadas entre si;
De mim só verdades sucintas;
Minha alma no recuo,
Da vida, que bem ou mal, vivi.
No céu do meu inferno
Tenho anjos, a quem confio
A alma revestida da carne sã.
Mas no inferno do meu céu,
Não confio a carne malsã,
Aos horrores do mausoléu,
Dos guardiões funestos,
Que se expõem no meio fio.
Gosto da claridade dessa voz,
Que sussurra entre dentes:
Me toma, mas não me queira,
Seja luz sem algoz,
Liberdade efervescente.
Doma sua vida sem fronteira.
Calo, e em mim, me assisto,
Me olho e reflito,
Onde a vida me abeira.
Mesmo sendo verbo proscrito em corpo aflito,
Não onde quero, mas onde ela me queira,
Ato meu laço bendito.