ARGAMASSA

Acrescenta-me à forma do teu mistério

recriando-me em arte relativa

nos cercados em que o tempo te permite

no oblíquo que teus olhos me concebem.

Faz de conta que criaste a argamassa

que me iludes ao moldar-me a teu critério

mas acorda-me em teus dedos, coisa viva,

a mostrar-me do planalto, o limite,

onde o espaço é o tempo que acontece

e a vida, tempo de caça que passa.

No caminho do teu gesto jaz beleza

mais que esfera, que nos prende em espiral.

Faz em mim breve ave em vôo livre

onde a queda, previsível, evita o chão.

Na re-volta, revoo em corte erótica

em leveza que é desmanche da certeza

na linha da emoção num polo, o mal,

igual senso de bem querer em que estive.

Enredada de amor, fio em tuas mãos,

serei talhe de algum teu desejo gótico

ou rascunho de tua alucinada ótica?