ABANDONO

Voa, belo,

Teu vôo,

Reta

A seta

Trespassa:

Caís.

De tão alto teu vôo de Ícaro

Abre vencidas asas em flor,

Peito ferido sangra:

Teu abandono no espaço azul, vejo,

Grito de dor, ouço.

Cala-se.

Pára o majestoso vôo pleno,

Não crês, não creio no que vemos:

Tu cais, eu morro.

Junto teu corpo ferido

Que sangra aberto o peito,

Sangro minhas mãos

Ao colher teus estertores,

Vejo a súplica de teus olhos,

Que não queriam morrer,

Empalidecer,

Chorar uma lágrima por mim:

Por quê?

Por quê?

Não sei,

Não sei...

Não sei de tantos porquês

Que mais esse só me aflige:

Tão belo vôo não viu rápida a seta

De dor.

Morro contigo, criatura livre,

Só me resta morrer contigo.

Assim que o meu grito de dor se romper,

Chorarei tua morte

E, depois, calado como sempre,

Morrerei.

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 13/09/2006
Código do texto: T239673
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