ABANDONO
Voa, belo,
Teu vôo,
Reta
A seta
Trespassa:
Caís.
De tão alto teu vôo de Ícaro
Abre vencidas asas em flor,
Peito ferido sangra:
Teu abandono no espaço azul, vejo,
Grito de dor, ouço.
Cala-se.
Pára o majestoso vôo pleno,
Não crês, não creio no que vemos:
Tu cais, eu morro.
Junto teu corpo ferido
Que sangra aberto o peito,
Sangro minhas mãos
Ao colher teus estertores,
Vejo a súplica de teus olhos,
Que não queriam morrer,
Empalidecer,
Chorar uma lágrima por mim:
Por quê?
Por quê?
Não sei,
Não sei...
Não sei de tantos porquês
Que mais esse só me aflige:
Tão belo vôo não viu rápida a seta
De dor.
Morro contigo, criatura livre,
Só me resta morrer contigo.
Assim que o meu grito de dor se romper,
Chorarei tua morte
E, depois, calado como sempre,
Morrerei.