O INSTANTE BREVE

Quantas flores nascem

e morrem no mesmo dia,

rasgam a cortina da vida

e se jogam intensas

no instante breve?

O homem,

que mora na segurança,

cai do penhasco

e fica preso no alçapão longínquo

que não conduz a nada,

com medo

que os outros também percebam

as suas fraquezas

e até o olhar indiferente

revele que é substituível,

descartável.

No des-velamento do mundo

a linguagem não está no horizonte do tempo,

penetra todos os instantes,

caminha para frente e para trás,

retira suas vestes,

até as mais íntimas,

sem-vergonha

da fragilidade do nu

que conduziu à inocência de Adão e Eva

banhando-se nas águas do éden antes do pecado.

O mundo existe

porque existe a linguagem do efêmero,

ela fala da fonte do ser das coisas,

da representação da vigília e do sonho,

da arte de dizer o que os sentidos reconhecem

como a face oculta que traça,

divide, une e depois separa.

As coisas falam

porque estão reconciliadas,

a chuva fustiga a nossa face

com promessas

e o rio verte as lágrimas

que poupamos.

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 16/09/2006
Código do texto: T241554