Correnteza da vida
Como fosse um barco que se arrasta triste,
Levado ao vigoroso sabor da corredeira que o atrai.
Ao som estonteante da catarata tão próxima,
Pressente que não mais pode dizer ao mundo
O que tanto aspira: estar com ela apertada ao seu colo.
No seu impróprio pensar deseja com ela dançar,
Com teimosia enfrentar o mundo rodopiando ao som das águas,
Como se ali fosse seu próprio lar, envolvido ao seu corpo, a valsar.
A iluminada noite no tempo caminha, formando um par com o vento,
E vai alta a madrugada prenunciando que a noite está em agonia,
E tempo não há para que uma valsa se desenvolva,
Ainda que triste, rodopiando ao som das águas, a dançar.
A realidade, esta valsa triste, não se deixa envolver ao som abstrato,
Mesmo desejando ser o senhor de um tempo que não se deixa dominar,
Nada mais ao poeta resta que não o despertar,
Para um novo dia e continuar em seu poetar.