Envelhecer
Elane Tomich
Vou dar um pulo na esquina
envelhecer um pouquinho.
Ao passar na padaria
comprarei um pão a menos.
Uma ceifadeira de quina
no vupt de um cafezinho
corta em breve a cantoria
em minha ciranda de amigos
fora d'hora do aceno
e o adeus nem era antigo.
Depois contarei minha vida
inteira, ao vizinho de trás
da fila, do pão ou do banco
e acharemos coincidências
em muitas coisas partidas,
do vaso chinês, à paz.
Meu cabelo, branco e franco
combinará com a cadência
do meu novo andar de sabença.
Não me encontro mais triste
que antes, pelo contrário:
é bom ser espectadora
e se quiser, também cantora.
Perdi a certeza em riste
e farei um inventário
hilário do meu ideário.
Para os anjos herdeiros
bordarei sonhos inteiros,
em fios de poesias
sem desenhar nostalgia.