Eu vendi a minha vida pro ruído.
Eu liguei o motor da carruagem
Pus meu corpo velho a andar
Deixei enferrujar as engrenagens
Para nunca mais me ouvir falar
Vou entre o megafone e o marcapasso
Chiados assobiam uma canção
Travesseiro no ouvido
Eu vendi a minha vida pro ruído.
O silêncio me provoca com insultos
Ditos pelas costas a quem for
Os vizinhos, porém, se fazem de surdos
Por cumplicidade ou torpor
Maestros não são mais que burocratas,
Demagogos a gesticular.
Por bom-senso (um bom-motivo),
Eu vendi a minha vida pro ruído.
As buzinas orquestrando a barbárie
Me ajudam a ler o jornal
Por que pedir que o mundo se cale
Por um episódio tão banal?
Os tímpanos só falam em divórcio
Mas serão amigos sem rancor
Assinado, decidido:
Eu vendi a minha vida pro ruído.
RF
Entre 09/01/2009 e 21/11/2010, às 02h01