Eu vendi a minha vida pro ruído.

Eu liguei o motor da carruagem

Pus meu corpo velho a andar

Deixei enferrujar as engrenagens

Para nunca mais me ouvir falar

Vou entre o megafone e o marcapasso

Chiados assobiam uma canção

Travesseiro no ouvido

Eu vendi a minha vida pro ruído.

O silêncio me provoca com insultos

Ditos pelas costas a quem for

Os vizinhos, porém, se fazem de surdos

Por cumplicidade ou torpor

Maestros não são mais que burocratas,

Demagogos a gesticular.

Por bom-senso (um bom-motivo),

Eu vendi a minha vida pro ruído.

As buzinas orquestrando a barbárie

Me ajudam a ler o jornal

Por que pedir que o mundo se cale

Por um episódio tão banal?

Os tímpanos só falam em divórcio

Mas serão amigos sem rancor

Assinado, decidido:

Eu vendi a minha vida pro ruído.

RF

Entre 09/01/2009 e 21/11/2010, às 02h01

Rodrigo Fróes
Enviado por Rodrigo Fróes em 21/11/2010
Reeditado em 21/11/2010
Código do texto: T2627726