***QUERO VILMA***
hoje acordei
com memória acesa
recordando tempos
de menina mocinha...
raízes simples
de gente humilde
pensamento franco
coração orgulhoso...
de cabeça erguida
seguia em frente
subindo ladeira
pisoteando lama...
das mesas fartas de amor
as donas de casa
honestas, trabalhadeiras
davam conta das crias...
pais de família
antes do sol nascer
pulavam da cama
pra lutar pela vida...
assim crescemos
nos dispersamos
seguimos a vida
cada um no seu caminho...
alguns meninos
foram pro Canal de Suez
serviram à Pátria
e dilaceraram a alma...
chegaram os tempos
da droga das drogas
que sorrateiramente
conquistou território....
regidos pela ditadura
calados na voz
o interessante passou
a ser o lado de fora...
o amor ficou livre
desagregando famílias
gerando bastardos
filhos da solidão...
aos poucos as raízes
deixaram de ser
sustento profundo
seiva da prole...
tantos se perderam
morrendo cedo
apagando sonhos
não tendo volta...
alguns sobreviveram
deram a volta por cima
não perderam o rumo
pisaram no freio...
Vilmas, Albas
Albertos, Jorginhos
Marilzas e Ledas
conduziram barcos...
hoje, memória acesa
chega a saudade
de donas Sara e Adelaide
de Marly, Marta e Mazé...
das janelas abertas
madrugadas na varanda
contando estrelas
jogando conversa fora...
saudade de Adilson
Almir, Babica
Nilce, Mocinha
donas Elisa e Onorina...
dos meninos moleques
das bolas de gude
das linhas com cerol
dos balões e cafifas...
de brincar de boneca
fazer comidinha
embalando filhos
desbotados pelo sol...
saudade de Cassinho
moleque ligeiro
que por um trocadinho
comprava banana e pão...
tempos felizes de
simplicidade pretensiosa
esperança de conquista
grandeza de fé...
Nikitita... a poetinha de Niterói