Um Conto

Um tácito acorde violento

Estronda o bordão atento.

E aquela nota que cai solta

Marca o solo e o compasso

Dos dedos que caminham no braço

De um trovadore boêmio....

Ainda em silêncio conta o tempo...

A se olhar para o cimo, ao cair do relento

Das noites frias de serenata,

Via-se a enorme e colonial janela

Da preguiçosa donzela que dormia.

Temeroso, inicia a melodia,

Invadindo espaços em alta e bela harmonia

E confessando segredos se põe a cantar,

E não percebe que, por azar,

Acorda o pai da donzela, que dormia.

O moçoilo se empolga em longo canto

E desenrola verso a alto pranto,

Promete mundos e chora toda sua mágua.

Mas, de súbito se cala com um balde d'água,

Cortesia do pai da moça

Que, provido de muita força e simpatia,

Brada ao gaiato boêmio que sua filha,

Há muito, já dormia...

Antonio Antunes
Enviado por Antonio Antunes em 15/10/2006
Código do texto: T265020