Um Conto
Um tácito acorde violento
Estronda o bordão atento.
E aquela nota que cai solta
Marca o solo e o compasso
Dos dedos que caminham no braço
De um trovadore boêmio....
Ainda em silêncio conta o tempo...
A se olhar para o cimo, ao cair do relento
Das noites frias de serenata,
Via-se a enorme e colonial janela
Da preguiçosa donzela que dormia.
Temeroso, inicia a melodia,
Invadindo espaços em alta e bela harmonia
E confessando segredos se põe a cantar,
E não percebe que, por azar,
Acorda o pai da donzela, que dormia.
O moçoilo se empolga em longo canto
E desenrola verso a alto pranto,
Promete mundos e chora toda sua mágua.
Mas, de súbito se cala com um balde d'água,
Cortesia do pai da moça
Que, provido de muita força e simpatia,
Brada ao gaiato boêmio que sua filha,
Há muito, já dormia...