TERCETO POÉTICO INSÓLITO DE POUCA LACÔNIA E DE TRI

I

POESIA SUSERANA

Consuetudinária de Velhas Tramas

É um uso pessoal – Senhor

O daquele poeta rimador

- Expressão inteira do amor -

Que não só nele "se" exprime,

Mas nele,

Inteiro declina sua letra, palavra e rima

Da poesia de amor faz doutrina

Dogma das coisas do coração

Como se este fosse apenas vício

Poeta suserano – Senhor

Da poesia serva

Poeta rimador – Dono

Da poesia bonita

Latifundiário feudal

Da terra do coração apaixonado

Há quão belas são tuas letras

Divina Comédia do Amor

Admirável Verso Novo

Como se não passasse, cessasse e renovasse

A dor

Que é fogo

Posto que é amor

Pulse em teu verso

Mesmo com rima

E alguma doutrina

Mesmo com estilo

E alguma platônice

A ousadia

De conter o ranço do dia manso

Do Reino de Fogo severo

Trabalhe tuas quadras com esmero

Mas tal qual um haicai ou poetrix

Dê vida, movimento e força

Tal qual a gula de Suassuna

E a que se esforça Patativa do Assaré

Transforme em cena

De Tarantino e Coppola

Ou de Kurosawa e John Woo

Teu versinho cretino

Que da foda da vida crua

Não diz nada

II

ESCRAVOCRACIA

E Toda a Minha Renúncia a Esta Corrente Algema da Poesia

Quão grande será o amor

Que no devir escondido

Não atende a necessidade do anjo caído

Que do Tártaro vem a Terra

Com as mensagens de Hades

Trazendo nuvens sinistras, ventos quentes

E potestades?

E que coragem terá este poeta selvagem

Que com horas de herói

Recorta em tese covarde

A ode do poeta do amor

Que versa sobre a idílica felicidade contida

No curso ignoto do amor?

Será que este homem não ama?

Será mesmo poeta, o que nunca amou?

Quem pensa que é o derrama

Que poematiza o drama

Que ideologiza a trama

Do ser social que é?

Mais um do mesmo

Que encena, mergulha e reina

Nas águas do rio Alpheus

- início e fim -

da Arcádia Contemporânea

Verdade dos dias em chama

Com a paixão e o calor

Desse lado esquecido do mundo

III

SÊ POETA

Pois que Só Combinar Palavras Já não Vale a Pena

Sê Golbery, Sê Zé Dirceu

Ilarilariê, Bum bum baticumbum e dubidú bai bai, dubidú bai bai

Encontre Ciro, Alexandre e Gandhi

Abrace Sidartha, Jesus e padre Cícero

Sê você, mais que tudo

Sê poeta

Em tudo que o poema

É

Não mais que tudo

Que o poema poderia ser

Sê tu poeta

Intransigentemente poeta

Poetransija, poetransigize

Impunemente até o infinito de tua alma

Atenda-me a este pedido

E não sinta apenas

O que sente tua sentada calma

Há de estrinir sensível grito

Teu poema infinito

Há que esgotar a sensível gana

Teu poema aflito, asfalto, pasta

Pois que só combinar palavras...

Fará com que teu poema

Já não valha a pena

Sylvio Neto
Enviado por Sylvio Neto em 21/06/2005
Código do texto: T26644