Preta velha
A preta velha, longo vestido, portava,
E verde a cor do mar, e verde a cor do olhar.
Branca era a cabeça que a ela encimava,
E os pés doíam lentos pelo longo andar.
Um xale lhe marcava os ombros recurvados,
Bordado de pequenas flores em botão,
Cobria-lhe os braços, da luta, cansados,
Vazios, agora - outrora plenos de emoção.
Seu corpo se movia em ondas e arcadas,
Sua calma era como a de uma madrugada,
No rosto, o mapa das esquinas desdobradas,
Nas mãos, o troco de ontem que hoje nada paga
Chegou o barco, sem velas e sem corrente.
Embarca sem destino; só leva o que sente.
Rio de Janeiro/RJ
27.09.2010
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