LIDA CONTÍNUA

Entro na madrugada como um ladrão,

caminhante errante das próprias mágoas.

As poças turvas não oferecem milagres,

não me faltam lençóis para adormecer

- mas sonhos

Escondo entre as mãos os dedos feridos,

na boca, a língua salgada,

entre as pernas, o ninho vazio.

Há quanto tempo já não penso na vida?

- e o dia vai

Se fecho os olhos nas noites insones,

não é para chorar rancores.

É aceitar o cansaço das pálpebras,

o silêncio da casa vazia.

Quando abrir as janelas matutinas,

encontrarei margaridas secas ao chão.

Eu as colherei para sepultá-las

sob a incerteza de meus tropeços.