NO FINAL

Não fosse aquela lua explicita

Elevando-se do mar ao céu

Um sol nascente, ardendo

Excitando misteriosas poesias

Diria que nunca existiu a madrugada

E que jamais anoiteceu.

Não fosse um nascente tão despudorado

Desnudando a flor em sua natureza

Revelando do dia as suas cores

Seus exóticos sabores, do sal ao doce

Diria que nunca amanheceu

E que jamais existiu a madrugada.

Não fosse a música...

O sentir de uma primeira canção

E no arrastar das horas

O ritmo tornando-se intenso

Em uma alegria, acelerando o coração

Diria que nunca existiu à tarde

E que jamais existiu esse dia.

Não fosse tudo isso...

Lembranças de um mar a me embriagar...

Não fosse o tudo! Tudo o quanto jamais senti

Diria que nunca existiram os dias, as tardes

As noites, as madrugadas.

Diria que jamais amanheci, que sonhei

Que enlouqueci ou que nunca vivi!

Não fosse dia após dia...

Vagar por ai sem saber quem sou

Diria que não existem desertos, que estou aqui.

Mas há uma dor a me dilacerar o peito, a alma

Que me leva para dentro de mim.

Ah! Não fosse essa dor... tão real...

Diria que morri!

(Rita Costa - 03.07.06 - Rio de Janeiro/RJ)