CHUVAS DE VERÃO

Cissa de Oliveira

Nos dias em que a água insiste

em devolver o frescor às cores das janelas,

duas coisas me ocorrem naturalmente:

a primeira é desligar os demais barulhos

e a outra, acordar à contemplação.

Passada a chuva

vem a quietude pesada das árvores,

e eu penso nuns versos verdes soprados

que levantassem do silêncio pétreo

uma revoada de pássaros.

Depois, ao menos até a próxima chuva,

isso tudo parece esquecível,

é o que volta a insinuar o som da TV,

do telefone, dos carros nas ruas

e do tagarelar da criançada

que eu nem tive.

Cissa de Oliveira
Enviado por Cissa de Oliveira em 05/11/2006
Reeditado em 05/11/2006
Código do texto: T282702