Ensaio do Dilema

Meu beijo não carece da tua boca vazia

E o meu desejo não vem de amor, vem de deixar

E meu fruto mais digno é a apatia

Dada, que consome toda minha exatidão

Porque já fui exato, nos termos, no tato

Já corri pros ventos mais gelados

Já desci ao trono do reino mais misérrimo

Mas não fiz canção, não dei recado.

Sei que ainda tenho fome, tenho sanha

Tenho saudade da sede que me consumia

A dor, o ardor, o medo e um copo d’água

Perdi de mim mesmo as palavras

Há, sim, um dilema fajuto poético:

Hei de sentir a sede ou o tédio?

O tédio alimenta, mas a sede me sustenta

Pra quem eu corro? Por quem eu morro?