SINTO MUITO

SINTO MUITO

Elane Tomich

Sinto muito te deixar

mas há mais o que fazer

de, por tão rala sustança,

destes restos de saber

não poder acontecer

deconstruindo a criança

no desuso do andar.

Fontes longas já esgotadas

de tanto, tanto, tentar

deter meu sangue poluído

que não cansa de vazar.

Veja esta dor sem ruído

leve,como morte mansa

parece até borboleta,

que, de não voar, se cansa.

Pano de fundo puído,

cenário de vida circense

de um mundo que não me importa

tão perto que me bate à porta.

É um retrato de guerra

na queda de braço, quem vence?

Um tiro que não escuto

de uma longitude terra

onde o meu coração queda surdo

ao toque que me ausculta.

Quero poder indagar

em cada passo meu

meu andarilhar rasteiro,

no traçado desta errata

junto ao meu canto primeiro,

que choro de chegar não mata

se o de partir, matrata.

Passo, assim passo a passo

neste vagar do compasso

chinelos escangalhados

de pisar feio em abusos

decerto de mal feitos usos

e total falta de freios

correndo em querer alheio.

Retraçado o meu marco,

mapeio enfim, irrompê-lo.

Será o meu maior arco.

seta lançada do apelo.

Afinal, no final das contas

vira tudo faz-de-conta

longe do absoluto

onde a mim me permito

ser eu, meu próprio absurdo.

Sem soluços, não reluto,

ao grande apelo mudo

***

da paz de viver sem mitos.