INSÔNIA

INSÔNIA

Chico Steffanello

Agora não durmo,

Deixo meu corpo

Sobre o catre

E viajo:

Voa minh'alma

Por muitos caminhos

Que lhe apraz voar

Para chegar inevitavelmente

Ao lugar que mais gosta:

À sombra das imensas árvores

Cobertas de musgos para

Respirar o que há de melhor perfume

E vibrar com a vida que pulula,

Falar com a voz de um pássaro

E deliciar-se no fecundo silêncio

Dos ciclos das águas,

Das vidas que germinam,

Das vidas que nascem,

Para coletar a energia

Que alimenta a centelha

Que levanta toda manhã

Meu corpo de onde estava.

Agora não durmo,

Deixo meu corpo

Sobre o catre

E viajo:

Voa minh'alma

Por muitos caminhos

Que lhe apraz voar

Para chegar antes do amanhecer

Ao lugar que mais gosta:

À sombra das grandes árvores

Que agora tombam

Feridas por lâminas,

Espantando a vida que pulula

Secando o perfume úmido e macio

Da relva mãe das vidas

Que germinam e que nascem,

Para ouvir horrorizado

O grito da vida que se esvai

Por obra das mãos da criatura

Mais amada do Criador.

Agora já não durmo,

Deixo o meu corpo

Sobre o catre

E viajo.

Voa minh'alma

Por muitos caminhos

Que lhe apraz voar

Para chegar antes do amanhecer

Ao lugar que mais gosta:

À sombra das grandes árvores

Para acordar meu corpo

Em sobressaltos

A cada grito da vida que se esvai

Por força da mão do animal mais

Amado pelo Criador.

Agora já não durmo

Porque não tenho onde chegar

Para comungar a minh'alma

Com as fontes de sua energia.

Agora já não durmo

Porque o horror me abate

A cada grito da vida que se arrebenta,

Da vida seca

E arde.

Agora já não durmo

Porque são áridos os caminhos

Que percorre minh’alma

E, horrorizada, ouve,

Sempre antes de chegar,

O choro silencioso do Criador.

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 30/01/2005
Reeditado em 06/02/2005
Código do texto: T2911
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