Casarão de mim mesmo

Abram em mim janelas, posto que sou como casa velha e preciso do sol, a claridade, para iluminar antigos cantos esquecidos;

Abram em mim portas para que o vento, esse menino travesso, possa brincar pelos corredores, afugentando com sua presença tristezas minhas esparramadas pelo chão;

Pelos quartos, saudades se amontoam enrodilhada como cobra em meus lençós;

Na sala, as lembranças estão solenementes assentadas ao sofá, assistindo DVDs de minhas dores;

No porão, o dono e sua fotografia esmaecida, se encontram lado a lado, bebericando em taça nobre, a solidão;

No piso da memória a sua ausência se incumbiu de riscar todos os ladrilhos do presente;

Do candelabro pende uma luz morta que ilumina meu fantasma assentado sobre a mesa de jantar;

Abram em mim janelas, posto que sou como casa velha e preciso do sol, a claridade, para iluminar antigos cantos esquecidos!