Estação Primavera Verão

Estação: Primavera – Verão

Eu não precisava ser tão estranha assim.

Eu me sinto muito diferente dos seres que conheço.

Eu me sinto muito leve. Tão suave e meiga, como o mel, que até enjôo.

Sou tão etérea e inconstante, dentro dessa dinâmica suave.

Tão fortuita, que escorrego pelas palavras e atos humanos comuns.

Eu me desvencilho dos apertos de mão, abraços e amizades.

Não pertenço a nenhuma organização que já tive contato

Político, religioso ou filosófico.

As pessoas e coisas se diluem um momento depois de tê-las visto

E compreendido.

Sinto-me um bálsamo, um incenso, depurando a todo instante...

O que vai se aglomerando no ambiente.

Sinto-me uma erva, um chá, um sonho esquisito;

Que deixa a todos confusos.

Não falo coisa com coisa, nem pontuo frases,

Traço parágrafos imensos.

Desenho animais incongruentes,

Tenho a letra indecifrável e atitudes incoerentes até para mim.

Surpreendo - me dócil com os rudes e irônica com os passivos.

E tudo, com tanta meiguice e tão boa intenção!

Eu não sei como comecei a ser assim ou quando acabarei...

Cuido bem de tudo, esquecendo-os;

Vivo como no dia do aniversário,

Com a expectativa do que rolará nesse baile de hoje.

E, vivo tudo isso com tanta verdade!

Se acontece o sofrer, é tudo por mim, ali degustado.

Conto uma história absolutamente absurda à minha experiência,

Mas, decididamente, aplicável à situação observada (só faltando tê-la vivido).

E adoro contar histórias!

Cito provérbios, faço gracinhas que a mim ruborizam,

Aos outros, descontraem.

Sou tão amada por tantos,

E, detestada por alguns, que antes me amavam.

Conto histórias sobre mim menos estranhas do que as que vivi,

Que é para não parecer mentira,

E me sinto hipócrita, como que interpretando um papel.

Sinto-me forte, conto-me fraca, só para não parecer pretensão.

Para mim, a melhor educação é a do mestre com ouvidos discípulos.

O melhor sexo é o que fazemos nos outros, e não com os outros;

O melhor amor é o que emociona com tesão;

Para mim, a melhor religião é a que não doutrina;

O partido é o que não tem posição;

A hora é agora;

O dia, é o que amanheceu;

O amigo é o mais presente;

O filho é o que cresceu;

O pai foi que morreu;

O órgão é o coração;

Sentimento, sensação;

Pensamento, percepção;

Eu queria me rasgar em prosa e verso,

Nesta verdade do meu ser,

Soltar tudo em flores e cores,

Como na melhor estação,

Primavera Verão

Marise Cardoso Lomba
Enviado por Marise Cardoso Lomba em 30/06/2005
Código do texto: T29294