Chuva Estranha

(Mahyná Flordensa Cendon)

Enquanto caminho

Pelo calçadão de Copacabana

lá de cima despenca

algo que não consigo

Identificar

Mas vejam,

O que é isso?

Sujou os meus sapatos

De vermelho...

É sangue!

Um corpo estendido

Bem na minha frente

Caiu do oitavo andar...

Nunca vi chuva

Mais grotesca,

Mais soturna

São corpos

Que se precipitam

das enormes janelas

Desses prédios chiques

Corro para me esquivar

Mulheres...

Se jogam

Diante da decência

Do bairro

Das lindas Famílias

Mascaradas,

De gente cristã...

As pedras

Preto e brancas

agora

Estão manchadas

De vermelho...

Essa que era

A cor do vestido

que usei no Réveillon

É agora

A cor de uma

Cartela inteira

De antidepressivos...

Antítese

As notícias não notificam

A hecatombe

...E Izmália voa...

Seu corpo subiu ao céu?

E sua alma despejada no mar...