Absolutismo do nada

A noite adormece. A meia lua, linda e solitária, abocanha a noite, como se o tédio fosse a solução.

Eu, aqui, a sonhar estrelas. A imaginar perfumes, a querer sabores...

Sempre a desejar o além do além. Tudo tão simples e ao mesmo tempo tão ilógico. Como querer estar onde não estou? Como querer tocar o que não é palpável? Mas eu sonho. Acordo a noite, sacolejo o vento, que até então era brisa, tentando fazê-lo tufão... tudo tão complexo, neste amplexus buscando corpo onde se encontra solidão.

A arte é minha. E nela não sei definir o que se é linha do que se é curva. E as sombras são como cílios semicerrados borrados de rímel lilás. E tudo vira paixão nesta hora que a lua ironiza com um molejo de desdém – não vê estrelas sós. Vê amontoado de cacos iluminados que, sem calor, apenas lá, escondem-se atrás das nuvens... a lua, eu, a noite, nós, sós.

E perco os ponteiros.

Perco o aviso do letreiro.

Perco o bonde.

Perco a nave.

Perco a vida.

Perco a arte.

Casuísmo.

Perco o único momento em que a lucidez me abocanhou.