Face a Face

Abomino teus olhos que, atemorizados, vejo,

E a face que eles acompanham exibe teu ar colérico.

Então culpo-te por teus escarnecidos erros

E condeno-te às trevas, à morrer num deserto.

Somente existem a ira e o ódio em meu corpo acabado,

E praguejo contra ti num urro incerto.

Que culminem tuas desgraças no pico do inferno,

E não mais atemorize os teus do passado.

O teu fracasso é um homérico planetário

Onde teus temores te cercam no infortúnio,

E tua morte é a única sina que almejo.

E apercebo-me só neste dilema falsário.

Cego-me então na desventura de tal delírio

Ao descobrir que são meus os olhos que, no espelho, vejo...

Antonio Antunes
Enviado por Antonio Antunes em 19/11/2006
Código do texto: T295412