Acesa num furor de seiva transbordante,

Toda a multidão desgrenhada – fundida

Como a conflagração de  cem formas selvagens

Em batalha – a agitar cem formas de folhagens

Disputa-se o ar, o chão, o orvalho, o espaço, a vida.

Na confusão da noite, a confusão do mato

Gera alucinações de um pavor insensato,

Aguça o ouvido ansioso e a visão quase extinta

Lembra urros de onça faminta

A mal ouvida voz da tremula cascata

Que salta e foge e vai rolando águas de prata.

Rugem sinistramente as moitas sussurrantes.

Acoitam-se traições à sombra

Penedos traçam no ar figuras de gigantes.

Cada ruído ameaça e cada vulto assombra.

Assim vão os cativos fugindo do cativeiro

O bando é numeroso. Vem de longe, no atropelo

Da fuga perseguida e cansada. Exitando em recuos

De susto e avançadas afoitas,

Rompendo o mato e a noite, investindo as ladeiras,

Improvisam o rumo ao acaso das moitas.

Vão andrajosos, vão famintos, vão morrendo.

Fica-lhes para trás, para longe, o tremendo

Cativeiro... e através desses grotões por onde

Se arrastam, do sertão que os esmaga e os esconde,

Da vasta escuridão que os cega e que os ampara,

Do mato que obsta e apaga os seus passos furtivos.

Iara Franco
Enviado por Iara Franco em 11/05/2011
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